sábado, 20 de setembro de 2008

Pierre Krebs, ou a arte de ver os problemas de fundo

Entrevista de Luis Anza para o n.º 1 do jornal espanhol Identidad, após o lançamento do livro La Lucha por lo Esencial. Pierre Krebs é licenciado em Direito, Jornalismo e Ciência Política, doutorou-se em Filosofia, com a tese “Paul Valéry face a Wagner: medida de proximidade”, e é professor de História e Política. Dirige a associação Thule-Seminar, é conferencista e colaborador de vários meios de comunicação franceses e alemães, director da revista Elemente der Metapolitik e escreveu vários ensaios sobre política e sociologia, entre os quais Im Kampf um das Wesen, já publicado em francês e agora em espanhol.


Na introdução do seu livro cita Antoine de Saint-Exupéry e Kurt Eggers. Considera-se mais francês ou alemão?
Antes de tudo, considero-me europeu. A identidade francesa e a identidade alemã não são mais que aspectos de uma mesma identidade: a europeia.

Na sua obra a ideia de identidade é central. Porquê?
Sem identidade não há raízes, sem raízes não é duradouro, tudo se constrói no vazio. Quanto mais profundas são essas raízes, mais sólida é uma comunidade e a sua encarnação jurídica, o Estado. Renunciar à identidade é renunciar a permanecer na história.

A Europa está a renunciar a sua identidade?
Veja à sua volta: fast-food e kebab, música étnica e de fusão, as modas e os produtos culturais americanos gozam do maior êxito e, para cúmulo, temos cerca de 30 milhões de imigrantes de outras culturas.

E isso é bom ou mau?
É a decadência. A decadência é um vírus que quando se infiltra nos povos acaba por corroê-los. A globalização e a mundialização são a asfixia dos povos.

Essa decadência não pode ser apenas passageira?
Só será passageira se os povos europeus mantiverem íntegro o seu substrato étnico e cultural. Se a desfiguração destes elementos for além de certos limites, desenganem-se, não há possibilidade de ultrapassar a crise.

Apesar disso, a opinião geral é de que caminhamos para uma “Europa mestiça”…
A diferença é que um povo colonizado que pode regressar às suas raízes logo que se liberte do jugo estrangeiro, um povo mestiço é um povo geneticamente manipulado que já não possui qualquer raiz.

Spengler dizia que a decadência das civilizações era inevitável.
Equivocava-se. A decadência não é o nosso destino inevitável. As linhagens hereditárias não “envelhecem”, mas é possível que sejam assassinados ou morram no combate. Lembremos o que aconteceu em Roam: sete séculos de guerras tiveram como consequência a morte dos melhores, uma selecção ao contrário.

Hoje existe o risco do assassinato da identidade europeia?
Sim, especialmente quando os povos europeus se submetem a influências culturais negativas e quando o nível demográfico decresce.

Isso não gera uma crise insuperável?
O estado de crise é, de facto, o estado normal na vida das culturas e dos povos. O mundo está em crise desde que é mundo. A crise é a lei fundamental da vida. Quando se entende a crise como um desafio, desperta a energia em vez de adormecê-la.

Qual é o grande desafio actual?
Sem dúvida, entender o processo de decadência que afecta a Europa. Só entendendo este processo será possível reagir.


Qual é então o segredo da decadência?
Há vários desencadeantes, a ideologia igualitária em primeiro lugar: onde há nivelação deixa de haver tensão. Uma vida sem tensão não é vida, é morte. Por outro lado, como defende Julien Freund, é desconcertante que o domínio da técnica e da natureza física seja acompanhado por uma regressão na ordem da natureza humana. Hoje a maioria dos seres humanos carece de domínio sobre si mesmos.

Não acredita que a União Europeia possa ajudar a ultrapassar a crise?
A UE não é a solução, é parte do problema. A Europa é vítima cada vez mais da burocracia planificadora e de uma tecnocracia apolítica em essência e cosmopolita por natureza, submetida pela crescente pressão dos consórcios multinacionais.

Por certo a Turquia entrará na UE?
Não o desejo, isso seria uma catástrofe para a identidade europeia, algo que não importa aos tecnocratas da UE. A única coisa que lhes interessa é se a entrada da Turquia desequilibrará economicamente ou não a UE; não lhes importa a identidade europeia.

Não acredita que um liberalismo económico são possa trazes paz e progresso?
O liberalismo projecta para o futuro da humanidade uma radical e profunda transformação da Terra num imenso mercado de trocas, no qual os indivíduos ficaram reduzidos a “unidades económicas” (mão-de-obra, clientes, empresários ou consumidores); tudo o resto (nações, Estados, povos, identidade) são consideradas anomalias provisórias em relação ao projecto de um mercado mundial.

A Europa terá sempre o “amigo americano”…
O sistema mundialista e globalizado favorece extraordinariamente os EUA e, em especial, a sua classe dirigente. Washington está para converter-se na capital técnico-financeira do grande mercado mundial, cujo sistema nervoso está constituído pela rede de corporações multinacionais. Veja-se isto: entre as 650 multinacionais mais importantes, 638 são controladas a partir dos EUA.

No fundo, se o mundo for mais homogéneo reduzem-se as possibilidades de conflito. Não lhe parece?
Uma das leis fundamentais do universo é a lei da heterogeneidade extrema a todos os níveis (movimentos, velocidades) e em todos os planos da matéria (formas, massas). Mesmo nos fósseis humanos mais arcaicos identifica-se um polimorfismo incrível. Um mundo homogeneizado, nivelado, igualitário até ao limite, não é um mundo: é a antecâmara do inferno.

Acredita que as nações actuais possam desaparecer?
Desaparecerão na medida em que desaparecerem as identidades. As nações estão intimamente ligadas ao território e à identidade. De facto, a ideia de identidade pressupõe a ideia de territorialidade. Não há identidade sem território.

Que acontecerá então com as novas identidades chegadas com a imigração?
Um fenómeno perverso: por um lado atenuar-se-ão as identidades das nações europeias, por outro afirmam-se as identidades dos imigrantes, os quais que se reagrupam em comunidades, bairros, guetos, para manter viva a lembrança do seu grupo de origem. É uma questão de tempo que, mais tarde ou mais cedo, reivindiquem um território próprio.

Lembro-lhe que isto é a Europa, existe uma ordem constitucional, uma autoridade…
Serviu realmente para alguma coisa quando as identidades magrebinas protagonizaram a formidável revolta de Novembro de 2005, que deixou o Maio de 68 parecer uma brincadeira de crianças? A revolta dos subúrbios, não foi mais que a revolta de uma identidade estranha enxertada em solo europeu, francês naquele caso. A primeira labareda da futura guerra civil racial e social.

Não deixa muito lugar para o optimismo…
A Europa pode e deve reagir perante esta situação. Estamos a falar da Europa, não de uma tribo perdida na Amazónia. A Europa deve renascer de si mesma, de uma nova reapropriação da sua própria origem. Não é dos outros que devemos esperar a salvação da nossa cultura, mas de nós próprios.

E isso é possível?
Isso é possível se os europeus o assumirem. É preciso que a Europa volte a ser ela própria, volte a determinar-se e a reafirmar-se a si mesma, que se proteja a si própria das pretensões especialmente vindas de Washington.

… que todos o vejamos.