Em detrimento das tradições ancestrais, geralmente transformadas e justificadas como «folklore», é imposta a festa popular, isto é, a festa artificial, estrangeira. O ritmo regular das festas sazonais que reconduziam o homem ao seu meio natural, foi substituído pelo soluço das músicas exóticas. Os histriões da rádio e da televisão substituíram os grandes criadores do passado. São numerosos hoje os que têm que sofrer os divertimentos fictícios que o conformismo ambiente impõe. O sucesso do «folk-song», isto é, do canto popular, explica-se em parte pelo desejo confuso de certa juventude querer escapar ao entontecimento e de se reconciliar com as grandes liturgias colectivas do passado.
Celebrar o Solstício de Verão é, antes de tudo, o reatar de uma festa ancestral e várias vezes milenária. Mas não se trata de proceder à maneira dos arqueólogos e dos etnógrafos. Esta celebração não é uma reconstituição. Deve ser viva e alegre, em harmonia com o tempo presente.
Reatar é voltar a encontrar o fio perdido. É voltar às origens da nossa comunidade de cultura e de civilização. A este respeito o Solstício de Verão possui um valor exemplar. Durante vários séculos sofreu as consequências da sufocação que o cristianismo lhe quis impor, para acabar por ser tolerado sob a festa de S. João. No entanto, um pouco por toda a parte, nas terras da Europa, os fogos solsticiais mantêm-se e renascem, testemunhando a dedicação dos nossos povos a uma certa concepção do mundo. A festa solar volta a inserir o homem no seu quadro cósmico. Reatar com esta festa da Europa mais antiga é afirmar a nossa fidelidade à herança ancestral e, através desta, à nossa identidade.
Nesta segunda metade do século XX, o Solstício de Verão conserva uma dimensão fundamentalmente comunitária. Continua a ser o momento privilegiado para, junto da fogueira de chamas claras, o indivíduo voltar a encontrar o seu clã.
Philippe Conrad
in “Os Solstícios – História e Actualidade”, Hugin (1995).